O Palácio do Planalto bem que tentou abafar, mas desde o início o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, esteve no centro da crise política. O escândalo eclodiu em 14 de maio de 2005, com a divulgação de uma gravação clandestina pela revista Veja. Maurício Marinho, funcionário de agencia dos correios, pôs no bolso do paletó R$ 3 mil. Propina. De cara, a evidente vinculação do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) ao esquema de corrupção. Os Correios eram área de influência do partido, uma das agremiações integrantes da base aliada do governo federal, capitaneada pelo PT (Partido dos Trabalhadores), a legenda de Lula.
Enquanto os telejornais escancaravam a fita com as imagens de Maurício Marinho enfiando o dinheiro no bolso, Lula apressava-se em defender o deputado Roberto Jefferson (RJ), o presidente nacional do PTB. Palavras de Lula, alto e bom som:
– Precisamos ter solidariedade com os parceiros, não se pode condenar ninguém por antecipação.
Lula se pronunciou durante almoço com aliados. O presidente insistiu:
– Parceria é parceria. Tem de ter solidariedade.
E arrematou, para não deixar dúvidas:
– Essa é a hora em que Roberto Jefferson vai saber quem é amigo dele e quem não é.
Lula estava preocupado. Recorda-se que, alguns meses antes, dissera a seguinte frase endereçada a Jefferson, em meio ao noticiário que especulava sobre um pagamento de R$ 10 milhões do PT ao PTB, com vistas a “comprar” o apoio dos trabalhistas às eleições municipais de 2004:
– Eu te daria um cheque em branco e dormiria tranqüilo.
A gravação de Maurício Marinho trouxe outras complicações. O funcionário dos Correios mencionou uma empresa, a Novadata. Pertence a Mauro Dutra, o Maurinho, amigo de Lula. A Novadata é uma fornecedora de computadores ao governo federal. Em dois anos e meio de administração Lula, faturou R$ 273,5 milhões. Como se sabe, Maurício Marinho desandou a conversar com os interlocutores que o subornavam, sem saber que estava sendo gravado.
Aqui uma pausa, para registrar: Lula passou o réveillon de 2001 na mansão de Mauro Dutra em Búzios, no badalado litoral do Rio. O mesmo Dutra que fez contribuições ao PT, arrecadou dinheiro para o partido e emprestou avião a Lula. Na fita, Marinho fala de “acertos” em licitações. Descreve manobra da Novadata para superfaturar computadores. A empresa tentou fazer o preço de cada computador vendido ao governo dar um salto injustificado, de R$ 3.700,00 para R$ 6.000,00.
Logo nos primeiros dias da crise, Lula trabalhou abertamente contra a idéia de se criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a corrupção no rastreamento correios. Foi decisão de governo: a administração federal iria liberar dinheiro de emendas ao orçamento, a todos os parlamentares que votassem contra a CPI. Faltou combinar com os jornais.
Jefferson foi destaque no noticiário político. As incursões do presidente do PTB nos subterrâneos de Brasília revelaram várias suspeitas de corrupção. Lula achou por bem se afastar do aliado, mas continuou trabalhando contra a instalação da CPI. Jefferson estava cada vez mais isolado. Os estrategistas do presidente não atentaram para o erro fatal.