Entrevista 12 de junho de 2005 com Jefferson

Em 12 de junho de 2005, nova entrevista de Jefferson à Folha de S.Paulo. O deputado deu detalhes da conversa com Lula, mantida dentro do gabinete do presidente:

– Ele me pediu que explicasse como funcionava o mensalão. Eu disse. Depois ele se levantou, me deu um abraço e eu saí.

Na entrevista, a chave para entender por que o escândalo do mensalão não foi contido nos bastidores da política, e virou mesmo um escândalo. Jefferson relatou à repórter Renata Lo Prete a primeira conversa com Lula para falar dos repasses, em janeiro de 2005. Jefferson esforçou-se em proteger o presidente:

– E vi a reação dele de perplexidade. E então as coisas pararam. Mas o que eu estranho é que a Abin, depois que eu disse isso ao presidente Lula, parte para mandar arapongas contra o PTB. Alguém, dentro do governo, não gostou que nós passamos essa informação ao presidente.

O “alguém” é o ministro José Dirceu. Foi acionado por Lula. A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) teria entrado em ação. No final das contas, mostrou-se desastrosa a estratégia de fuçar a vida de Jefferson e descobrir podres do deputado, com vistas a obter o seu silêncio. Ele não aceitou a chantagem. O tiro saiu pela culatra, o fato era que ali começava contar dias politica do deputado..

Dia 13 de junho de 2005, o seguinte à entrevista. A assessoria de Dirceu divulgou informações segundo as quais o relacionamento entre o ministro e Lula era excelente. Bobagem. O importante do “recado” de Dirceu estava na frase que, segundo a assessoria, o ministro havia proferido. A fala de Dirceu foi divulgada como sendo textual, entre aspas, e serviu para definir o seu relacionamento com o presidente:

– Não faço nada que não seja de comum acordo e determinado por ele.

Estava tudo aí. Dirceu, ao travar combate para não ser expelido do governo, fez ameaça velada a Lula. Como quem diz: “Não ouse me fritar, muito menos me demitir. Sei demais. Posso e vou comprometê-lo”. Mas ficou nisso. Dirceu jamais fez nada, apesar de, em outros momentos da crise, ter voltado a insinuar que poderia pôr o dedo na ferida.

Em 14 de junho de 2005, Jefferson prestou depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Foi um dia histórico. Jefferson pediu o afastamento de Dirceu do governo. Na prática, sentenciou à morte o homem mais importante da história do PT, depois de Lula:

– Zé Dirceu, se você não sair daí rápido, você vai fazer réu um homem inocente, o presidente Lula.

Para complicar as coisas, entrou em cena Fernanda Karina, a ex-secretária de Marcos Valério. A essa altura, Valério, o empresário dono de agências de publicidade e principal operador do mensalão, já era uma celebridade. Ela disse em entrevista à revista Isto É Dinheiro que Valério tinha comunicação direta com Dirceu.

O superministro de Lula também foi acusado de receber dinheiro do esquema de corrupção montado em Santo André (SP). Quem fez a denúncia foi Francisco Daniel, o irmão do ex-prefeito Celso Daniel (PT). Aqui, Lula voltou ao centro da crise. Francisco Daniel disse que o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, transportou R$ 1,2 milhão de propina em seu carro. O dinheiro teria sido entregue a Dirceu, na época o presidente nacional do PT.

Em 16 de junho de 2005, Dirceu foi defenestrado do governo. Fazendo-se de alheio aos problemas, Lula deu entrevista em Luziânia (GO) para dizer que as denúncias eram “vazias”. Se assim o fossem, por que afastar o ministro? Entrementes, nos bastidores de Brasília, o presidente trabalhava para frustrar a CPI dos Bingos, uma nova fonte de investigações contra o seu governo. Prometeu mundos e fundos para quem ficasse ao seu lado. Não conseguiu impedir a instalação da CPI.

Um episódio que mostrou Lula como sujeito atuante nos corredores invisíveis de seu governo, e não alguém sempre por fora dos “detalhes” comprometedores. Foi o caso da “simples” nomeação do diretor de engenharia de Furnas Centrais Elétricas. O assunto relatado por Jefferson ocupou páginas e páginas de jornal. Não era para menos. O diretor, Dimas Toledo, administrava, de acordo com Jefferson, uma “sobra” de R$ 3 milhões ou R$ 4 milhões por mês – dependendo da versão –, dinheiro abocanhado quase que integralmente pelo PT.

O caso Furnas acabou contribuindo para o desgaste da relação PT/PTB, pois o partido de Jefferson não aceitava ficar à margem, relegado a um segundo plano. Pois bem. Jefferson exercia influência em Furnas e queria trocar Dimas Toledo. O presidente era simpático ao pleito do PTB. Lula dissera a Jefferson:

– Roberto, por que está demorando tanto?

O presidente não aceitou explicações:

– Nada disso. O Dimas vai sair.

No caminho, porém, estava José Dirceu, aparentemente cioso da fortuna em comissões e propina. Quando a casa caiu, Jefferson contou a história aos jornais. A reação instantânea do Palácio do Planalto foi afastar todos os citados, inclusive Dimas Toledo. Mas a história de Jefferson revelou que Lula tinha conhecimento do que se passava, e há tempos.

Outro episódio, vinculado diretamente a Lula. Ocorreu em 8 de julho de 2005, a partir de uma notícia publicada pelo jornal O Globo. A Telemar, uma das maiores operadoras de telefonia do país, investiu R$ 5 milhões na pequena Gamecorp, de Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha. Como se sabe, a Telemar é constituída por recursos públicos do Banco do Brasil, BNDES e fundos de pensão de empresas estatais. É uma concessionária de serviço público, regulada pelo governo federal.

O negócio Telemar/Gamecorp foi intermediado pela consultoria de Antoninho Marmo Trevisan, outro amigo de Lula. Para o presidente, porém, nada de errado. Como sempre, aliás. A reação dele, nervosa, pretendendo pôr um ponto final no assunto:

– Estão querendo mexer na minha vida privada. Isso é uma baixaria, um golpe baixo, um desrespeito. Isso é irracional.

Voltemos a um acontecimento importante, ocorrido em 17 de junho de 2005. Lula deu a famosa entrevista em Paris, divulgada com exclusividade pelo programa Fantástico, da Rede Globo. O impressionante da história foi o coro do presidente ao que acabara de ser dito por Marcos Valério e Delúbio Soares, ambos metidos até o pescoço na lambança do escândalo do mensalão. A estratégia dos três, apesar da diferença de tom das intervenções, foi a mesma: negar os pagamentos a parlamentares, o crime de corrupção, e pôr tudo na conta dos simples repasses para quitar dívidas de campanha, usando caixa 2. Um crime menor, apenas eleitoral. Para Lula, o PT fez o que é feito no Brasil, sistematicamente:

– E não é por causa do erro de um dirigente ou de outro que você pode dizer que o PT está envolvido em corrupção.

Enquanto Lula minimizava a crise, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) acusava o que chamou de “crime de quadrilha”:

– Agora, o partido está dentro do governo, e foram usadas empresas públicas como o Correios e Furnas, para fazer transações ilícitas. Favoreceram essas empresas em troca do dinheiro dado ao partido.

Difícil tapar o sol com a peneira. Olívio Dutra (PT-RS), petista histórico, foi demitido do Ministério das Cidades. Ressentido, desabafou durante entrevista. A “disputa” e a “concentração de poder no governo” fizeram crescer a “erva daninha”. Para ficar claro, a erva daninha da corrupção.

Para ajudar a entender Lula, um acontecimento de 1995. Outro petista histórico, o economista Paulo de Tarso Venceslau, procurou o presidente para conversar. Apresentou-lhe um esquema de corrupção envolvendo o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula. Ele vinha usando o nome de Lula para desviar dinheiro de prefeituras do PT. Venceslau não aceitava a prática, mesmo sabendo que o dinheiro acabava nos cofres do partido.

O economista achou que Lula o ajudaria a extirpar o corrupto que manchava o nome do PT. Resultado: Venceslau foi expulso do partido. Quanto a Teixeira, continuou firme e forte. Venceslau concedeu entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo:

– Lula foi o primeiro a saber do caso. Sabia do comprometimento do seu compadre, sabia do volume de dinheiro público envolvido, e fez questão não só de acobertar, mas de punir quem tinha descoberto.

O economista comparou Lula nos dois casos. Na década de 90, candidato a presidente, ao ser informado das andanças de Teixeira atrás de comissões em prefeituras, e agora, presidente da República, com o escândalo do mensalão:

– Eu levei para ele, pessoalmente. E o tempo todo fingiu que não sabia. Evidentemente que Lula não operava, assim como não está operando hoje. Mas como ele sabia naquela época, ele sabe hoje, sempre soube.

Depoimento de José Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara. Quem roubou a cena foi Roberto Jefferson. Veio à tona a operação Portugal Telecom. Os fatos: o ministro Walfrido Mares Guia pediu ajuda a Lula para resolver os problemas financeiros do PTB. Com o conhecimento do presidente, Marcos Valério e Emerson Palmieri, tesoureiro do PTB, viajaram para Lisboa atrás de uma “comissão” de R$ 100 milhões. A jogada pressupunha uma transferência de US$ 600 milhões do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). Se desse certo, os R$ 100 milhões irrigariam os caixas 2 do PT e do PTB. Valério chegou a Portugal se dizendo “consultor do presidente do Brasil”. Era mesmo.

Entrevista 6 de junho de 2005 com Jefferson

Em 6 de junho de 2005, Jefferson concedeu uma entrevista-bomba ao jornal Folha de S.Paulo. O Brasil não era mais o mesmo. A manchete, na primeira página, para não deixar dúvidas: “O PT dava mesada de R$ 30 mil a parlamentares, diz Jefferson”. Nascia o escândalo do mensalão.

Leal ao presidente que procurou protegê-lo, Jefferson tentou deixar Lula fora da crise. Mas logo implicou o superministro José Dirceu (PT-SP). A entrevista reproduziu a reação de Dirceu, assim que ouviu Jefferson falar sobre os repasses. A tarefa de fazer a distribuição do dinheiro era de responsabilidade do tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Palavras de Dirceu:

– Eu falei para não fazer.

Ora, se o todo-poderoso ministro da Casa Civil, braço direito de Lula, disse a Delúbio Soares não fazer, fica implícito que a prática já fora pensada, discutida e era de conhecimento do chamado “núcleo duro” do governo. Destaca-se que Delúbio tinha relação histórica com Lula. Jefferson continuou o seu relato à Folha, envolvendo outros importantes auxiliares do presidente.

Se os mencionados não conheciam os fatos, ficaram com a obrigação de encaminhar as denúncias a Lula, assim que foram informados. Afinal, o presidente não poderia permanecer alheio a um esquema de entrega sistemática de dinheiro a parlamentares. Isso, claro, se já não soubesse muito bem o que acontecia.

Jefferson levou informações sobre o mensalão ao ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Da mesma forma que Dirceu, deveria contar tudo o que lhe foi relatado ao presidente. Assim, providências enérgicas impediriam o prosseguimento da prática de suborno. Independentemente das convicções do ministro. Conforme Jefferson, Ciro disse que não acreditava na história da transferência de dinheiro de caixa 2 para a base aliada.

Informado por ministros leais, Lula não poderia fugir do seu dever constitucional de determinar a imediata abertura de investigação, com a finalidade de punir os eventuais culpados.

Depois foi a vez de Miro Teixeira, o ministro das Comunicações. Os deputados José Múcio (PTB-PE) e João Lyra (PTB-AL) testemunharam a conversa na qual Jefferson pediu para Miro contar tudo a Lula. Tem mais. Jefferson também discutiu o problema com o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), o então líder do governo Lula na Câmara, e garante que expôs tudo ao ministro Antonio Palocci (PT-SP), outro integrante do “núcleo duro” do governo. O recado estava dado.

Aparentemente, só Miro tomou a coisa a sério. A prova é a entrevista concedida por ele em 24 de setembro de 2004 ao Jornal do Brasil, na qual alardeou que havia pagamentos a parlamentares ligados à base de apoio do governo. Não houve conseqüências. Miro, no entanto, já havia narrado o caso ao presidente. Aí é que a coisa pega. Foi em 25 de fevereiro de 2004. Na época, o deputado Miro se transferira ao PT e assumira a liderança de Lula na Câmara. O episódio aconteceu logo depois do escândalo que culminou com a saída de Waldomiro Diniz do Ministério da Casa Civil, no primeiro grande caso de corrupção da era Lula.

Miro era assediado por deputados que temiam pelo fim da “mesada” fornecida pelo governo, uma hipótese aventada com a saída de Waldomiro. Afinal, o assessor de Dirceu cuidava justamente da relação da administração federal com o Congresso. Miro foi duro. Disse ao presidente que deixaria a liderança do governo. Não aceitava os pagamentos. Com ar de surpresa, Lula garantiu desconhecer o assunto. Mas disse que iria discuti-lo, sem falta, com Dirceu. Nada. Pouco mais de um mês depois, Miro voltou ao Palácio do Planalto e pediu para sair da liderança. Substituiu-o o deputado Professor Luizinho (PT-SP), aparentemente um dos expoentes do mensalão.

Em 5 de janeiro de 2005, Jefferson levou o assunto diretamente a Lula. Quem testemunhou foi o ministro Walfrido Mares Guia (PTB-MG), do Turismo. Nenhuma providência tomada. Voltou a Lula novamente, em 23 de março de 2005. Desta vez, várias pessoas ouviram a conversa sobre as “mesadas do Delúbio”. Jefferson expôs tudo. Presenciaram José Dirceu, Aldo Rebelo e José Múcio. Todos os três, aliás, já estavam a par do assunto. Além deles, ouviram o relato o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, que, da mesma forma, não poderiam mais alegar desconhecimento. Jefferson afirmou:

– Presidente, o Delúbio vai botar uma dinamite na sua cadeira.

Reação de Lula:

– Que mensalão?

Houve ainda um outro episódio, dez meses antes. Foi na noite de 25 de maio de 2004. O curioso é que, daquela vez, Lula introduziu o assunto. A comitiva do presidente estava em viagem oficial à China. Lá pelas tantas, depois do farto jantar, Lula se virou para o deputado Paulo Rocha (PT-PA) e perguntou se ele já ouvira falar do pagamento de mesadas a parlamentares. Para entender: durante os desdobramentos do escândalo do mensalão, Rocha preferiu renunciar ao mandato a correr o risco de ser cassado, justamente por fazer saques de dinheiro de caixa 2. Rocha negou a história. Mas outros três deputados que estavam à mesa na China confirmaram a veracidade da conversa à revista Veja (utiliza o serviço dos Correios para enviar suas edições para as bancas, utilizando-se sempre como base o CEP do endereço, encontrado no busca cep).

Com a explosão do escândalo do mensalão, Aldo Rebelo foi escalado para falar em nome do Palácio do Planalto. Admitiu que Lula ouvira mesmo o relato de Jefferson em 23 de março de 2005, mas tratou de blindar o presidente. Para Rebelo, a denúncia envolvia o PT e outros partidos, não o governo. Ora, o PT é o partido de Lula. E os outros partidos dão sustentação política ao governo Lula. Estavam sendo pagos para isso. Como blindá-lo?

O líder de Lula no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), tentou explicar a reunião de 23 de março:

– Nenhum dos presentes tratou aquilo como denúncia, nem discutiu o assunto na reunião. Depois, Lula chamou Aldo e Chinaglia e perguntou se havia comentários sobre isso na Câmara. Não houve denúncia, apenas o relato de boato.

Para Mercadante, portanto, Lula, o grande beneficiário da maioria forjada para apoiar o seu governo no Congresso, não tinha providências a tomar sobre o assunto. Pois não havia “comentários” sobre o tema.

Folha ainda circulava com a denúncia de Jefferson sobre o mensalão naquele 6 de junho de 2005, quando o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), veio a público revelar que dois deputados receberam propostas para se transferir à base aliada do governo Lula, em troca de dinheiro.

Pior: em 5 de maio de 2004, Perillo levou o fato diretamente ao conhecimento de Lula. Na época, o presidente disse que iria apurar. Não fez nada. De qualquer forma, não faria sentido dizer que não sabia do assunto. Meses depois, fustigado, o Palácio do Planalto se posicionou sobre o episódio, por meio de nota. Informou que Lula não se recordava de nenhum comentário do governador a respeito da tentativa de suborno de deputados.

O escândalo do mensalão do governo lula resumido

O Palácio do Planalto bem que tentou abafar, mas desde o início o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, esteve no centro da crise política. O escândalo eclodiu em 14 de maio de 2005, com a divulgação de uma gravação clandestina pela revista Veja. Maurício Marinho, funcionário de agencia dos correios, pôs no bolso do paletó R$ 3 mil. Propina. De cara, a evidente vinculação do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) ao esquema de corrupção. Os Correios eram área de influência do partido, uma das agremiações integrantes da base aliada do governo federal, capitaneada pelo PT (Partido dos Trabalhadores), a legenda de Lula.

Enquanto os telejornais escancaravam a fita com as imagens de Maurício Marinho enfiando o dinheiro no bolso, Lula apressava-se em defender o deputado Roberto Jefferson (RJ), o presidente nacional do PTB. Palavras de Lula, alto e bom som:

– Precisamos ter solidariedade com os parceiros, não se pode condenar ninguém por antecipação.

Lula se pronunciou durante almoço com aliados. O presidente insistiu:

– Parceria é parceria. Tem de ter solidariedade.

E arrematou, para não deixar dúvidas:

– Essa é a hora em que Roberto Jefferson vai saber quem é amigo dele e quem não é.

Lula estava preocupado. Recorda-se que, alguns meses antes, dissera a seguinte frase endereçada a Jefferson, em meio ao noticiário que especulava sobre um pagamento de R$ 10 milhões do PT ao PTB, com vistas a “comprar” o apoio dos trabalhistas às eleições municipais de 2004:

– Eu te daria um cheque em branco e dormiria tranqüilo.

A gravação de Maurício Marinho trouxe outras complicações. O funcionário dos Correios mencionou uma empresa, a Novadata. Pertence a Mauro Dutra, o Maurinho, amigo de Lula. A Novadata é uma fornecedora de computadores ao governo federal. Em dois anos e meio de administração Lula, faturou R$ 273,5 milhões. Como se sabe, Maurício Marinho desandou a conversar com os interlocutores que o subornavam, sem saber que estava sendo gravado.

Aqui uma pausa, para registrar: Lula passou o réveillon de 2001 na mansão de Mauro Dutra em Búzios, no badalado litoral do Rio. O mesmo Dutra que fez contribuições ao PT, arrecadou dinheiro para o partido e emprestou avião a Lula. Na fita, Marinho fala de “acertos” em licitações. Descreve manobra da Novadata para superfaturar computadores. A empresa tentou fazer o preço de cada computador vendido ao governo dar um salto injustificado, de R$ 3.700,00 para R$ 6.000,00.

Logo nos primeiros dias da crise, Lula trabalhou abertamente contra a idéia de se criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a corrupção no rastreamento correios. Foi decisão de governo: a administração federal iria liberar dinheiro de emendas ao orçamento, a todos os parlamentares que votassem contra a CPI. Faltou combinar com os jornais.

Jefferson foi destaque no noticiário político. As incursões do presidente do PTB nos subterrâneos de Brasília revelaram várias suspeitas de corrupção. Lula achou por bem se afastar do aliado, mas continuou trabalhando contra a instalação da CPI. Jefferson estava cada vez mais isolado. Os estrategistas do presidente não atentaram para o erro fatal.