Outubro de 2005 entrevista Silvio Pereira

O entrevistado agora foi Silvio Pereira, o ex-secretário-geral do PT. Silvinho falou à Folha de S.Paulo, em 2 de outubro de 2005, entrevista essa que pode ser compartilhada por email diretamente no hotmail entrar:

– A minha responsabilidade não é diferente da de nenhum outro dos 21 membros da executiva nacional do PT. O nível de decisão que eu tinha não era diferente do de nenhum dos 21 membros da executiva nacional do PT.

Silvinho evitou citar nomes:

– Eu assumo a responsabilidade como membro da direção do PT, em que pese a direção do PT ter realmente a noção do que estava acontecendo. Ninguém é hipócrita de achar que não sabia que existia caixa 2. Qual membro da direção do PT não sabia disso?

O repórter perguntou se o então presidente do partido, José Genoino, sabia do esquema de caixa 2. Palavras de Silvinho:

– Eu pergunto: qual o membro da alta direção do PT que não poderia supor que pudesse existir?

Silvinho foi afastado do PT ao admitir que ganhou um jipe Land Rover de presente de uma fornecedora da Petrobrás.

Um fardo pesado para Lula, o caso Santo André. Em 23 de novembro de 2005, a empresária Rosângela Gabrilli depôs à CPI dos Bingos. Trouxe à luz meandros do esquema de corrupção engendrado na administração do ex-prefeito Celso Daniel.

A irmã dela, Mara Gabrilli, pediu ajuda diretamente a Lula. Esteve no apartamento do presidente em São Bernardo do Campo (SP), e conversou com ele por 20 minutos. Descreveu um quadro de extorsão contra prestadores de serviços à Prefeitura, como a empresa da família dela. Lula ficou de “averiguar e tomar providências”. Desabafo de Mara, confirmando o depoimento da irmã:

– Ninguém fez absolutamente nada. Nunca tive uma resposta.

Chamada a depor na mesma CPI dos Bingos, Mara revelou novas informações sobre o encontro com Lula. Na ocasião, contara ao presidente que Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, estava envolvido no esquema de corrupção. Também o acusavam de mandar matar Celso Daniel. Durante a reunião de Mara com o presidente, Lula virou-se para os três assessores que o acompanhavam no apartamento, para dizer:

– Nossa, eu achei que o Sérgio Gomes já estava muito longe.

Como sempre, Lula não sabia o que se passava. Conveniente. O incrível é que o tal Sombra não saía do noticiário dos jornais. Vivia prestando depoimentos a CPI, Ministério Público e Polícia Civil. Como poderia estar “muito longe”? O presidente seria tão desinformado?

Lula não tomou providências para resolver o problema em Santo André, conforme se comprometera. Ao invés disso, a família de Mara passou a sofrer pressões. Ela explicou à CPI o que aconteceu após a conversa em São Bernardo do Campo. Referiu-se ao ex-vereador Klinger Luiz de Oliveira (PT), um dos acusados de envolvimento no esquema de corrupção:

– Ocorreu justamente o contrário. Klinger soube, reclamou, e dias depois uma comissão de sindicância da Prefeitura se instalou na nossa empresa.

Além de Santo André, a crise política teve outra ramificação importante em Ribeirão Preto (SP), terra de Antonio Palocci. Irromperam sucessivos indícios de condutas inadequadas e corrupção na cidade, na época em que a administração municipal estava sob o comando do prefeito Palocci. Apesar da gravidade das denúncias que só se avolumavam, Lula fez reiteradas defesas do seu ministro da Fazenda.

Quanto mais clara a participação de Palocci na malversação dos contratos de limpeza pública de Ribeirão, mais manifestações de Lula a elogiar o ex-prefeito. Como justificar a defesa intransigente dos procedimentos de alguém cujo envolvimento nas falcatruas ficava cada dia mais evidente?

O noticiário era farto: inquéritos, provas documentais e testemunhas. Principalmente os depoimentos do advogado Rogério Buratti. Ele manteve ligações estreitas com o PT, mas decidiu contar o que sabia para melhorar sua situação na Justiça. Por que, então, a solidariedade a Palocci? Aparentemente, só há uma explicação. Palocci sabia demais. Impossível Lula simplesmente demiti-lo e mandá-lo de Brasília de volta a Ribeirão. Palocci era uma pedra no sapato do presidente.

Ao admitir a hipótese de impeachment de Lula, o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, falou da proximidade do presidente com Luiz Gushiken, outro integrante do “núcleo duro” do Planalto. Busato tratou do caso Visanet, ou seja, do dinheiro da publicidade do Banco do Brasil que, de acordo com as investigações da CPI dos Correios, acabou desviado para o PT:

– A revelação de repasses de verba de publicidade da Visanet, ligada ao Banco do Brasil, a agências de Marcos Valério, e de distribuição a parlamentares sempre em épocas apropriadas ao governo, atingiu mortalmente o coração de Gushiken. E, ao atingir Gushiken, atinge Lula, na medida que o presidente não tomou nenhuma atitude para afastá-lo do governo. É prova inconteste de que Lula sabia exatamente de todo o esquema e estava de acordo com a sua existência.

Busato não tem dúvidas:

– A participação de Lula é absolutamente baseada pela proximidade de quem sempre foi confidente e grande amigo de Gushiken. O ex-ministro realmente comandava toda a área de comunicação do governo federal, onde havia um desvio de dinheiro público para atividades partidárias e delituosas no sentido de corromper o Congresso Nacional.